Certezas Envelhecem
Ouvi esse tema a alguns dias e ainda está ecoando fortemente em mim.
Nesse período do ano em que já estamos fechando as cortinas de 2023, vivemos o misto de cansaço, animação e ansiedade pelo novo ano que já descortina para nós, as reflexões já nos cercam.
E como todo ano tudo que não conseguimos resolver, projetamos para o novo ano, que ao se aproximar, nos inspira e dá a sensação de agora teremos mais tempo para fazer tudo que não conseguimos nesse ano. E alimentamos a esperança de que tudo poderá se ajustar para atender nossas expectativas e anseios.
Mas, será que os planos, projetos e sonhos ainda estão atuais e vão valer para essa nova fase? Será que estaremos colocando nossa energia em algo que ainda é importante e vai nos trazer aquele tão sonhado encantamento?
Esse é o desafio que esquecemos de incluir nesse período do ano, de atualizarmos nossas ideias, e avaliar nossas vontades, necessidades ou projetos, pois provavelmente muitos deles já não se encaixam em nossas novas perspectivas.
É hora, então, de ressignificar. Ser honesto conosco mesmos e dizer para si que aquele curso, aquela viagem, aqueles sonhos se transformaram em novos ideais. Somos novas pessoas a cada dia e tudo que nos acontece nos ensina algo diferente e provavelmente, aquela ideia faz parte do seu outro “Eu” do passado.
Muitas pessoas ficam frustradas por não estarem realizando coisas projetadas lá atras e não percebem que o mundo deu tantas voltas e elas não são mais aquelas quem sonhou e que tantas coisas novas e belas surgiram para serem desbravadas, e jogam fora incríveis oportunidades.
Estou atenta a esse movimento, de cada dia mais me olhar com generosidade para as minhas certezas e de vez em sempre, questioná-las. Esse movimento ajuda a acalmar os sentimentos que nos visitam quando algo sai dos trilhos, quando a minha própria certeza se esvai e eu lembro que nada lá fora depende de mim e tudo aqui dentro depende de mim.
Nesse mundo fragmentado, ansioso, não linear e incompreensível, colecionar certezas tendem a trazer sofrimento, frustrações, paralisias, evitações, cárceres e prisões diante de ideias formatas ao longo da vida que sequer ousamos questionar. E consequentemente, muitas vezes também traz adoecimento psicológico, e tantos problemas que já falamos aqui anteriormente.
Não estou dizendo para você abandonar tudo, claro que não. É que o novo pode e deve ser constantemente a forma de pensar expandida. Talvez um dos maiores aprendizados que estamos somando nos últimos tempos, tenha sido o de que nossas verdades não são absolutas, o que funcionava ontem talvez não funcione amanhã, que viveremos neste estado de incerteza e de impermanência de forma permanente. Como já dizia, sabiamente, Heráclito (500 a.C.) – A única coisa permanente na vida, é a mudança.
Ou seja, o mundo e nós mesmos mudamos o tempo todo. De fato, é assim que acontece, a mudança é, por vezes, contundente. Nada permanece o mesmo, tudo está em contínua mutação. E, apesar desse conhecimento, continuamos sempre procurando por certezas.
É bem conhecida sua expressão “um homem não se banha duas vezes no mesmo rio, pois a cada segundo o rio é outro e o homem também”. Segundo Maria Cottas, “na vida tudo passa.”
Para alguns, esta impermanência amedronta bastante, já para outros ela abre um oceano azul com possibilidades infinitas ou exponenciais.
Então, revisitar as nossas verdades, avaliar se elas ainda continuam fazendo sentido nas nossas vidas é um movimento necessário. Até os nossos valores mais intrínsecos podem e devem ser questionados. E haja coragem para fazer esses movimentos. E nesse final de ano, encontramos terreno fértil para aproveitar e fazer essa jornada de autoconhecimento.
A reflexão que sugiro a ser incluída ao traçarmos nosso plano para o ano novo é: diante de tanta rapidez, novidades, incertezas e complexidades, mais importante do que planejar, é adaptar-se. O que teremos que fazer diferente e de inovador nos próximos anos? O que será feito por nós, pelos nossos colaboradores? E pelos nossos negócios?
A experiência enraizada no tempo nos ensina que a sabedoria não está em prever todas as mudanças, mas em manter os sentidos aguçados para detectar os primeiros sinais. A transformação silenciosa pode ser mais poderosa do que um estrondo retumbante. Logo, volto a afirmar: Certezas Envelhecem. E essa é a beleza que tanto tem criado novas formas em tudo a nossa volta.
O momento, agora, exige alta adaptabilidade e examinar cuidadosamente as estruturas, as normas, os conceitos, as posturas e as formas de viver. Exige remodelar nossa relação com as pessoas e a coletividade, com nós mesmos e com a natureza. E lembrando que as certezas envelhecem, aproveita e faz logo esse dever de casa.
Deixo algumas perguntas como sugestões para aprofundar suas reflexões:
- O quão flexível eu sou?
- Como posso desenvolver minha adaptabilidade?
- Como estou encarando as circunstâncias e como afetam minhas reações?
- Quais as realizações que quero comemorar no final de 2024?
- O que tem me feito feliz?
Finalizo esse último artigo do ano, deixando aqui minha dica para 2024: Se permita sentir-se confortável com o desconforto, isso vai abrir muitas novas possibilidades e esta deve ser uma das muitas de nossas metas de vida.
Deixo meu abraço e meu desejo que encontre muitas coisas incríveis e as renove todos os dias, para que continuem incríveis.