Você está preparado para o mundo BANI?

Você está preparado para o mundo BANI?

abril 4, 2022 0 Por Cleisse Mello

A cada minuto aumenta a complexidade do mundo. E como temos falado sobre desafios, não podemos deixar de incluir o quanto tem ficado cada vez mais complexo planejar para navegar nele. Não é à toa que muitas pessoas e empresas se sentem paralisados.

Vamos entender um pouco tudo isso que estamos vivenciando e como se movimentar nesse contexto:

No início dos anos 1990, quando chegou o fim da guerra fria, surgiu o conceito de mundo VUCA, que se trata de uma visão que tenta explicar uma nova dinâmica e forma de vida que surgiu na sociedade. VUCA é uma sigla em inglês para Volatile (volátil), Uncertain (incerto), Complex (complexo) e Ambiguos (ambíguo). Para os pensadores da época, essas eram características que norteariam a vida em sociedade nos próximos anos.

Nos anos 2000, com a ascensão da internet e outras tecnologias, o termo VUCA começou a ser muito incorporado no mundo dos negócios. Por isso, as empresas começaram a pensar nisso de forma estratégica, justamente para terem vantagem competitiva e saírem na frente de suas concorrentes.

Veja as características do VUCA:

V = Volatility/Volatilidade – Remete à velocidade da mudança, seja nos mercados ou no mundo em geral. Está associada com flutuações na demanda, turbulência nos mercados e pouco tempo para a adaptação. Quanto mais volátil é o mundo, mais rápidas as coisas mudam.

U = Uncertainty/Incerteza – Essa incerteza está associada à incapacidade das pessoas entenderem o que está acontecendo. Ambientes incertos são aqueles que não permitem qualquer previsão. Quanto mais incerto o mundo é, mais difícil prevê-lo.

C = Complexity/Complexidade – Refere-se ao número de fatores que precisamos levar em conta para tomar decisões mais eficientes, a variedade de fatores levantados e as relações entre eles. Quanto mais fatores, maior a variedade e quanto mais interligados, mais complexo é o ambiente. 

A = Ambiguity/Ambiguidade – Se relaciona à falta de clareza sobre como interpretar algo. Não é sobre analisar a maior quantidade de dados e sim fazer análises avançadas dos KPIs certos. Uma situação é ambígua, quando a informação é incompleta, contraditória ou muito imprecisa para tirar conclusões claras.

Com isso, volatilidade ou complexidade passaram a ser lentes embaçadas para enxergar o mundo hoje. O grande divisor de águas foi o início da pandemia de covid-19, em 2020. Na realidade, um pouco antes, em 2018, o antropólogo e futurista Jamais Cascio já observava que o mundo VUCA estava ficando obsoleto. 

O fato é que a pandemia virou de ponta cabeça o mundo (ainda mais)  e fez com que a vida em sociedade e no mundo dos negócios se tornasse ainda mais complexa. Para evitar uma crise sanitária ainda pior, por exemplo, grande parte das empresas teve que mudar as suas operações para o home office. E ninguém estava preparado para isso.

Agora, mesmo com a situação um pouco mais controlada, os reflexos da pandemia seguem em nossas vidas. O uso das novas tecnologias, que foi muito impulsionada, inclusive no meio acadêmico, seguirá em alta.

Para alguns historiadores, como Lilia Schawarcz, foi a Covid-19 que marcou realmente a entrada do mundo no século XXI.  Esta declarou, que o novo coronavírus alterou o curso da história da humanidade e a forma como compreendemos o momento atual. Foi assim que o antropólogo e futurista Jamais Cascio criou o novo conceito, representado pelo acrônimo BANI: Brittle (frágil), Anxious (ansioso), Nonlinear (não-linear) e Incomprehensible (incompreensível).

Sim, foi a pandemia do novo coronavírus, que acelerou ainda mais a transformação digital, fez com que esse acrônimo fizesse mais sentido e refletisse a realidade das sociedades e empresas.

Vamos entender as características do mundo BANI:

B = Brittle/Frágil – A ideia é que estamos suscetíveis a catástrofes, a qualquer momento e todas as empresas que estão construídas sobre bases frágeis, podem desmoronar da noite para o dia. Ficou evidente que o mundo é frágil. Um vírus coloca o mundo inteiro em quarentena, uma falha em um sistema fecha uma loja, um passo em falso de um executivo derruba a empresa na bolsa, uma praga destrói uma plantação, uma falha em uma estação elétrica deixa um estado sem energia, uma tecnologia nova provoca a demissão de milhões de pessoas. O que temos certeza hoje, pode virar uma incerteza amanhã. A economia pode mudar, o mercado pode evoluir e até mesmo pandemias podem acontecer. Temos que ter sempre uma carta na manga. Uma saída para situações urgentes. Precisamos nos preparar para o imprevisível, buscando sempre estar um passo à frente.

A = Anxious/Ansioso – A ansiedade é um dos sintomas mais presentes na atualidade e isso se reflete também no mercado de trabalho. Estamos vivendo no limite e isso ocasiona um senso de urgência, que pode pautar muitas decisões. A incerteza nos causa ansiedade. O senso de urgência pauta muitas decisões. Uma oportunidade pode se abrir em uma curta janela de tempo e precisa ser agarrada. Trabalharemos com uma margem de erro maior, mas com atitudes mais rápidas e oportunidades aproveitadas.

N = Nonlinear/Não-linear – Nesse período, vivemos em um mundo cujos eventos parecem desconectados e desproporcionais. Sem uma estrutura bem definida e padronizada, não é possível fazer organizações estruturadas. Logo, planejamentos detalhados e de longo prazo podem não fazer mais sentido. Grandes planejamentos podem não fazer tanto sentido no mundo BANI. Tudo está em constante mudança, logo, é preciso adaptar o seu negócio para fazer parte dessa realidade. Várias ações estão em curso simultaneamente, é um mundo não linear, nós não temos controle. É difícil ver as conexões entre diferentes coisas ou sacar que outros projetos e processos acontecem paralelamente ao nosso redor.

I = Incomprehensible/Incompreensível – A incompreensão é gerada quando tentamos encontrar respostas, mas as respostas não fazem sentido. Às certezas estão abaladas frente ao que desconhecemos. Dessa forma, precisamos entender que não temos o controle sobre tudo. (na verdade, nunca tivemos, mas podíamos nos antecipar). Buscamos respostas para tudo, baseado nas inúmeras informações que recebemos. Montar uma estratégia com base em dados pode não dar certo, pois o ser humano muda de ideia o tempo todo. O risco está presente em cada decisão tomada. Com tantas mudanças, com tantos acontecimentos, é fácil perder a conexão com a realidade. O avanço tecnológico foi tão profundo em diversas áreas que já não é mais possível entender como as coisas funcionam.

Mas, como devemos lidar com tudo isso?

Primeiro é importante ter a clareza de que o mundo VUCA passou para BANI. Isso já nos permite reagir de forma diferente ao que acontece.

Cada vez mais as soft skills se tornarão mais importantes e precisamos do apoio das próprias ferramentas tecnológicas incompreensíveis para coletar e organizar dados para nos dar maior compreensão. Assim como, para lidar com a fragilidade, precisamos de capacitação e resiliência e para lidar com a ansiedade, precisamos de empatia e cuidar da saúde mental. Num mundo não linear, precisamos prestar atenção ao contexto e sermos adaptáveis, já em um mundo incompreensível, precisamos de transparência e intuição.

Tanto no mundo VUCA, como no mundo BANI, como você pode perceber, não é algo tão simples para se lidar. Trazendo essa realidade para o meio empresarial, é importante pensarmos em como desenvolver ações para ter uma boa trajetória e conquistar mais espaço no mercado de trabalho, em meio aos cenários de incertezas. Na próxima semana vamos conhecer algumas maneiras que as empresas estão adotando para se preparar para o mundo BANI. Até lá!

Cleisse Mello Coach

É Administradora de Empresas com MBA em gestão empresarial de negócios e especialista em docência do ensino superior. Possui 28 anos de experiência em gestão e planejamento estratégico em empresas nas quais ocupou cargos executivos. Uma profissional de destacada atuação na área de desenvolvimento humano especialista em gestão de negócios e Business coach de negócios e liderança.

Atua ainda como consteladora organizacional, além de possuir formação em DEP (Dinâmica Energética do Psiquismo). É facilitadora da metodologia Pathwork®, bem como consultora e instrutora organizacional, tendo cooperado na gestão e planejamento estratégico de inúmeros processos de melhoria e evolução em contextos humanos variados (pessoais, grupos, empresas e instituições). Tem exercido muita contribuição como Facilitadora de aprendizagem e mudança.